In Chaos – “Hope Wears Black”

 

Data: Setembro/2024

Edição: Autor

Formato: Álbum

A ignorância é amiga da felicidade, é uma máxima que se aplica em pleno aos In Chaos. Porque a verdade é que os desconhecia até agora, e descobrir este “Hope Wears Black” trouxe imensa felicidade ao meu ser. Por isso, a ignorância, na medida em que cria espaço para novos conhecimentos, é amiga da felicidade. Sim, estou a filosofar, eu sei, mas “Hope Wears Black” é um daqueles álbuns que me abre caminhos ao pensamento.

Os In Chaos conseguem com este álbum fazer algo de que eu sinto falta na música, atualmente: autenticidade. Num mundo em que proliferam “influencers” que mais não fazem do que manipular mentes, ditando modas e formatando hábitos e costumes, os In Chaos assumem as suas influências e raízes musicais sem medo de ser ou parecer. E o resultado é que são o que parecem: uma banda que sabe o que faz, que arrisca em nome próprio e que me agarrou aos seus temas desde o primeiro momento em que os primeiros acordes soaram. Aquela que seria a primeira audição para dar nota a um álbum candidato a disco do mês, tornou-se numa audição repetida vezes sem conta, plena de prazer.

“Hope Wears Black” está pleno de composições onde a mensagem é transmitida magistralmente, através de letras muito bem escritas e onde mais uma vez a banda prova que não é preciso artifícios, brilhos e purpurinas para ser excelente. A excelência está na humanização das mensagens, naquilo que faz com que o ouvinte torne suas as canções que ouve, identificando-se emocionalmente. A excelência está In Chaos.

Costumo dizer, porque é verdade, que os capítulos da minha biografia são álbuns de música e “Hope Wears Black” já escreveu o seu. É impressionante como revejo tantos momentos da minha vida num álbum de 2024, quando já passei a idade do meio século. E não pensem que estou a falar de um álbum cujo som está ultrapassado, bem pelo contrário. Com “Hope Wears Black” os In Chaos provam que é possível ter um som moderno, mantendo a essência das influências clássicas. E o resultado é tããããããõoooooooo bom!

A voz e o baixo de André Marinho são o dueto perfeito, quer nos momentos mais introspetivos, quer quando a agressividade e a velocidade assumem níveis quase insanos, ditados pela bateria de Pedro Rijo. A dupla de guitarras é assumida por André Lopes e Jorge Martins, cujas cordas não necessitam de palavras para falarem e nos arrepiarem até à medula.

Apesar das imensas vezes que já escutei este álbum, a escolha de um tema preferido é ainda algo não conseguido. Podia falar de “Something You Can´t Be” e de “Haunted By a Memory” que me arrepiam e tocam emocionalmente, de “Bigger Crown” e da sua mensagem, de ”Overload” e da sua velocidade estonteante ou dos hinos “Devil’s Call” e “We All Die”, mas prefiro não o fazer pela injustiça que seria para com os restantes temas.

E não poderia terminar sem fazer referência à capa do álbum, que sem grandes artifícios consegue transmitir tudo o que está em “Hope Wears Black”: “freedom never comes free”, “you never lose what was never yours”.

Já há algum tempo que um álbum não me emocionava da forma como esta esperança que se veste de preto o faz, sempre que o escuto. E eu gosto disso, de me sentir emocionalmente frágil ao escutar um álbum que ao mesmo tempo me transmite força e determinação.

Agora, só falta o lançamento em formato físico para que “Hope Wears Black” tenha o tão merecido lugar nas nossas coleções e não se perca na imensidão impessoal que é o mundo digital.

Rosa Soares

Nota da Review: 9
Nota da Equipa: 8,4

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