O black metal atmosférico de Forgotten Winter desenvolve-se num mundo imaginário, rico em filosofia, misticismo e transcendência, que tal como os seres lucífugos, se desenvolve na obscuridade. Não é por isso estranho que a escolha para capa do álbum tenha recaído sobre uma pintura de Salvator Rosa, que nos emerge na Alegoria da Caverna de Platão

“Lucífugo” dá continuidade à narrativa lírica de “Vinda” e apresenta-nos o povo Ertzakwy, habitante das profundezas e Ikrwtxe, a povoação cujos habitantes são devotos a dois deuses: o deus da alma, conhecimentos e sonhos e a deusa da morte. Este povo tem um ritual que consiste em marcar a data da morte no momento do nascimento, ou seja, a data em que cada um dos seus habitantes terá de cometer suicídio de forma a preservar o conhecimento adquirido em vida. O último tema do álbum faz ligação a Vinda, através dos seres Velmaer e da batalha de Uldene (primeira faixa do álbum “Vinda”) e leva-nos a conhecer “Ascralt”, torre erguida com os cadáveres da referida batalha.

Cantado maioritariamente em português, “Lucífugo” tem passagens líricas, nos temas “Baile dos Cadáveres” e “Nenúfar”, em dois idiomas criados pela dupla Trobador e Eremita: Velmaer, idioma já usado no anterior trabalho e o novo idioma Ertzakwy, que aos ouvidos mais atentos denota uma forte influência da língua basca.

Musicalmente “Lucífugo” é épico, atmosférico, sinistro e negro.

Ouvir “Lucífugo” é uma experiência de queda nas profundezas, de vivências inquietantes e viscosas que nos envolvem e sugam a alma. Um disco perfeito para se ouvir nas tardes de outono, quando as cores e a atmosfera convidam à introspeção.